Na noite, em minha cama, eu conseguia me concentrar e vê-los, inclusive até ouvi-los. Geralmente eles vinham em grupo. Sem chamar atenção eles entravam em meu quarto, sabiam que meus pais não notariam sua presença. Cochichavam em meus ouvidos tudo o que fariam comigo. A sensação de ser uma presa indefesa, tendo como proteção um fino cobertor é simplesmente terrível. Hora ou outra descobria a cabeça para respirar e via eles ainda lá, me encarando com o olhos famintos e fixos. Sabiam que eu não conseguia me mover diante de seu olhar.
Certa noite, temerosa do meu destino, não consegui dormir. Era tarde da madrugada, quando movido pelo instinto de sobrevivência me dirigi para o quarto dos meus pais.
_ mamãe, tem alguém no meu quarto. Bem escondido atrás das cortinas, eu pude ver seu vulto no tecido.
Meu pai deu um longo suspiro. Pensei que ele não fosse dar atenção, mas ele sabia que eu não costumava sair do quarto apenas movido por um medo infantil. Ele acendeu a luz e saiu da cama, passando por mim. Eu podia jurar que vi uma ferida arroxeada em seu braço, parecida com as minhas, as quais ele nunca deu muita atenção.
Mas logo isso não vai mais importar.
Como sempre, meu quarto estava vazio. O guarda roupa trancado, as janelas fechadas. Eu estava pronto para ouvir meu pai reclamar, mas em seu rosto havia uma expressão de medo. Ele sabia que era real...""

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